Ainda sobre o vírus que está a mudar o Mundo
Terça-feira, 22 de março de 2020
Na newsletter da Jervis do mês passado questionei-me se o mundo ficaria igual depois da epidemia do Covid-19. Na altura, essa dúvida parecia-me uma incógnita difícil de antecipar porque a história tem-nos mostrado que nem sempre aprendemos as lições do passado.
Decorrido apenas um mês da última newsletter que lançámos, não tenho dúvida que, desta vez, nada ficará como dantes! Todos vamos alterar profundamente os nossos hábitos e comportamentos. Mesmo que entretanto surja a tal vacina milagrosa, que certamente nos vai aliviar, há toda uma série de rotinas que se vão alterar, pelo menos, nos anos mais próximos.
No plano laboral, o teletrabalho passa a ser a palavra de ordem. Talvez não nas organizações fabris mas, seguramente nas empresas de serviços, no comércio online e nos serviços administrativos dos diferentes setores de atividade, designadamente na função pública. Os horários passarão a ser mais flexíveis, de forma a diluir as enchentes nas horas de ponta. Os escritórios, os restaurantes, o comércio local e os eventos desportivos e culturais vão obedecer a configurações de espaço diferentes, de forma a acautelarem o distanciamento físico entre as pessoas. Também a maior parte das reuniões deixará de ser presencial e passará a acontecer à distância de um clique, o que, aliás, representará uma enorme economia de tempo (e não só!) para as empresas e para os seus quadros. O uso de máscaras, as luvas e os desinfetantes entrarão nas rotinas diárias e os próprios sistemas de limpeza ganharão uma nova dinâmica.
No plano pessoal, a grande transformação será certamente na forma como nos relacionamos uns com os outros. Todos privilegiaremos a socialização em grupos mais pequenos, evitando eventos de massas que nos possam “contaminar”. Os meios digitais continuarão a dar cartas e a dominar cada vez mais a nossa relação com os outros. Os espetáculos online vão ganhar terreno, os grandes eventos vão perder público e os abraços vão ser cada vez mais seletivos. A própria religião vai encontrar novas formas de se relacionar com os fiéis.
E o Turismo? Será que vamos continuar a viajar?
Acredito que sim. Este ano vai haver uma enorme retração, não só por causa da epidemia mas principalmente por causa da economia. Mesmo assim, o ser humano não vai deixar de viajar. Vai fazê-lo de forma diferente e “mais distanciada”. Vai continuar a querer conhecer novos destinos e outras culturas recorrendo a modelos de transporte e alojamento mais sustentáveis. O conceito de luxo vai ganhar outros contornos, menos dependentes do dinheiro e mais associados à preservação do meio ambiente. O ecoturismo tem agora a oportunidade de se afirmar como um segmento de mercado de primeira linha, junto de todas as faixas etárias.
Quando comecei a trabalhar com a Autoridade de Turismo da Tailândia demorei algum tempo a habituar-me ao distanciamento social dos cumprimentos dos tailandeses. Não há cá beijos, nem abraços, nem sequer apertos de mão. Uma simples vénia, mais ou menos curvada, é a tradição e a boa educação. Perguntei muitas vezes: e onde é que está o calor humano? Diziam-me sempre que é assim por razões de higiene e respeito pelo próximo. Só percebi agora!
Rosário Louro
Diretora-Geral